
Guia para Familiares e Amigos de Pessoas Portadoras de Transtornos Alimentares
Pessoas portadoras de transtornos alimentares podem se recuperar, mas a ajuda de profissionais de saúde é, quase sempre, necessária. Infelizmente, quanto mais os sintomas forem negados ou ignorados, mais difícil será a recuperação. Se você ou alguém que você conhece sofre de um possível transtorno alimentar, é importante procurar ajuda imediatamente. Familiares e amigos podem também se beneficiar dessa ajuda e informações, além de poderem dar valiosa ajuda e suporte durante a recuperação.
Não há dúvida de que é muito difícil se aproximar de uma pessoa portadora de transtorno alimentar e essa tarefa pode ser ainda mais difícil quando se trata de um familiar ou amigo. Você pode se perguntar acerca do que dizer e se perturbar com o que pode acontecer. Esses são medos legítimos. Assegure-se, contudo, de há coisas que você pode fazer para oferecer apoio e conforto.
Qualquer pessoa pode ajudar e apoiar a alguém com transtorno alimentar, desde pais, cônjuges, filhos, irmãos, pessoas com outro parentesco, amigos, professores e colegas de trabalho. Você pode ser mais velho ou mais novo em idade que a pessoa para dar-lhe suporte, pode vê-la todos os dias ou com menos freqüência.
Ao ajudar uma pessoa portadora de um distúrbio alimentar, você precisará ser muito compreensivo e paciente.A pessoa portadora de transtorno alimentar vivencia períodos de depressão, raiva, falta de esperança e desespero. É importante lembrar que é a doença que está no controle, e não a pessoa que está mudando.
Você, seus familiares e seus amigos irão sentir, frequentemente, sentimentos conflitantes de desamparo, desespero, compaixão ou ressentimento. Você pode sentir que deveria ser capaz de ajudar por que se importa com a pessoa que está sofrendo – mas você simplesmente não sabe o que fazer ou dizer. Tenha em mente que talvez a própria pessoa pela qual você se importa não esteja pronta para admitir que ela tenha um problema.
É provável que você sinta culpa pela doença de seu filho ou do seu cônjuge, talvez angústia pela doença de seu amigo. Em vez de tentar descobrir as causas do surgimento do transtorno, seja positivo, tente obter informações importantes e planeje o que fazer em seguida.
Quanto mais rápida a ajuda for encontrada, mais rápida será a superação do problema. Seja um suporte e dê apoio quando o tratamento for encontrado e compreenda que pode levar algum tempo para que a combinação entre tratamento e a atitude do paciente resulte em movimento rumo à recuperação.
O primeiro passo a ser tomado é evitar que a situação se torne pior do que já está. Feito isso, você pode tentar ajudar a melhorar as coisas. Contudo, a recuperação é um processo lente, de passo a passo, que irá incluir tanto recaídas como avanços. Ser capaz de se comunicar com a pessoa sem julgamentos e discussões é muito importante. Nenhum parente ou amigo pode sozinho, fazer alguém se recuperar, mas o seu apoio é incalculável. Aquilo que você diz e faz pode ajudar – ou atrapalhar – a recuperação de alguém portador de transtorno alimentar.
A recuperação precisa de um ambiente de clareza e sinceridade. É importante eliminar os segredo e negação da doença, pois ela não irá embora por si mesma. Assim, se você desconfia que alguém possa ter um transtorno alimentar, tentar conversar, mesmo que seja difícil, é, frequentemente, um essencial primeiro passo.
Quando você começar a falar de seus medos e preocupações, tente preparar o que vai dizer e como vai dizer. Encontre um tempo em que nenhum de vocês esteja irritado ou preocupado e, onde, de algum modo, você não será interrompido. Tente explicar que notou mudanças no comportamento da pessoa, que está preocupado e quer ajudar.
Lembre-se que a questão não é sobre comida, mas sobre sentimentos. Por isso, é essencial não falar sobre dieta e sobre perda ou ganho de peso. Seja honesto sobre seus próprios sentimentos e encoraje a pessoa a qual está ajudando a ser honesta sobre os dela.
Você também irá precisar de ajuda e apoio. Contudo não troque de lugar com a pessoa que está doente. Não permita que ela comece a agir como se estivesse cuidando de você. Você não deve permitir que ela se responsabilize por seus sentimentos.
Aquilo que você faz é uma mensagem muito mais poderosa do que aquilo que diz. Ser um bom modelo para seu filho ou parente durante o processo de recuperação significa tomar conte de suas próprias necessidades físicas, emocionais, mentais e espirituais. Assim, ocupe parte de seu tempo com você. Se você é casado ou está engajado numa relação íntima, dedique-se a ela. Procure suporte da família, amigos e/ou profissionais que ache que possam ajudar. Permita-se ser cuidado. E diga “Não” quando você puder. Se dê um descanso. Não assuma nenhuma responsabilidade extra nesse momento.
A vida precisa continuar – tente não permitir que a pessoa desista de uma vida normal e de atividades do dia-a-dia ou afete outras relações, especialmente dentro da família. Pode ajudar se você tentar manter algo na sua relação que não seja relacionado com o transtorno alimentar ou com a comida. Você precisa olhar para si mesmo e mostrar para a pessoa que cuidar de suas necessidades é aceitável. Contudo, se você é um membro da família imediata do paciente, é importante que você participe de sessões de terapia familiar que devem ser oferecidas como parte do tratamento.
A comunicação com qualquer pessoa, não apenas com aquelas portadoras de transtornos alimentares, significa ser um bom ouvinte e tentar entender o que o outro pode estar tendo dificuldade de dizer. Mostre que você o entende e ama pela pessoa que é. Aceite que vocês podem ter opiniões diferentes para evitar brigas e não se prenda em assuntos como comentar a aparência da pessoa.
A família pode fazer coisas práticas para diminuir a ansiedade durante as refeições. Você e a pessoa portadora de transtorno alimentar podem planejar o cardápio alimentar para o dia seguinte, tendo em consideração o tipo de comida que ela pode estar tentando comer. É preciso dividir as responsabilidades, chegando a um consenso sobre quem comprará as comidas e dividindo as tarefas no preparo delas. Se a pessoa tiver compulsões será necessário considerar a quantidade de comida a ser armazenada em casa.
É importante que vocês concordem com comportamentos que serão e que não serão tolerados. Isso ajuda a criar limites. Coisas que você faz habitualmente, como deixar comida em locais de fácil acesso pela casa ou balanças em banheiros, podem causar problemas para alguém com transtorno alimentar. Assim, tente identificar essas potenciais dificuldades e discuta como vocês podem lidar com elas juntos. Ao apoiar e ajudar uma pessoa com transtorno alimentar é preciso ter em mente que a família ou o grupo de amigos precisa ficar unido para impedir que a doença separe vocês.
As pessoas que se recuperam de um transtorno alimentar dizem o quanto é importante ter amor incondicional e apoio daqueles que se importam com eles, mesmo quando eles sabiam que seu comportamento era bastante difícil de ser compreendido.
Pessoas bem intencionadas, mas que não têm idéia sobre o que sua família está enfrentando, podem, algumas vezes, podem dizer coisas insensíveis. Outras pessoas que precisam fazer parte do plano de tratamento – como escola e outros membros da família – precisam saber determinadas coisas. È preciso evitar responder à perguntas invasivas que não são da conta de quem está perguntando. Por outro lado, algumas perguntas são uma oportunidade de educar e clarear a questão se você sentir essa necessidade. Alguns dias você pode se sentir muito esgotado para responder a tais perguntas – deixe a pessoa saber que não é um bom dia para fazer perguntas. Pais de adolescentes e jovens adultos portadores de transtornos alimentares, baseados em suas próprias experiências, dão os seguintes conselhos:
PERGUNTAS INVASIVAS RESPOSTAS SUGERIDAS
Transtorno alimentar não é a nova doença da moda? Eu ouço falar todo tempo sobre ela na mídia.
Absolutamente. Um transtorno alimentar não é uma moda ou frescura. As pessoas simplesmente não pegam e ficam boas. Transtornos alimentares são condições complexas e devastadoras que podem ter graves conseqüências na saúde física e emocional, na qualidade de vida e nos relacionamentos da pessoa.
Transtorno alimentar?
Isso não é realmente uma doença é? È só uma dieta errada (anorexia). É só um desculpa para atrair simpatia por estar acima do peso (bulimia, transtorno da compulsão alimentar periódica).
É uma doença reconhecida e real. É também uma doença muito séria – a anorexia é a maior causa de morte dentre as garotas adolescentes.
Posso lhe dar alguns conselhos?
Eu agradeço o seu carinho e desejo de ajudar e é bom saber que eu conto com seu apoio e suporte. Eu realmente prefiro escutar os conselhos da nossa equipe de tratamento nesse momento. Nós estamos recebendo muitas informações de diversas direções e está ficando um pouco confuso. Obrigado por se preocupar.
Por que você pensa que ele/ela tem um transtorno alimentar?
Ninguém sabe exatamente o que causa um transtorno alimentar. “Agora eu estou preocupado em apoiar e encorajar meu filho no tratamento e não me focar nos “como” e porquês”.
Como ele/ela pode estar doente? Ele/ela não parece doente?
Pessoas com bulimia nervosa geralmente estão numa faixa de peso normal e algumas podem estar abaixo ou acima do peso. Pessoas com anorexia podem não parecer doentes até que o transtorno se torne tão severo que ponha a vida em risco.
Ele/ela só está no ginásio. Não é muito jovem para ter um transtorno alimentar?
Não. Transtornos alimentares podem ser diagnosticados em pessoas jovens de até sete anos de idade.
Por que ele/ela fala sobre a doença a um professor, enfermeiro, conselheiro/supervisor – qualquer outro adulto – primeiro?
É comum os jovens hesitarem em falar com seus pais sobre coisas sobre das quais eles se sentem muito mal. Nós ficamos felizes de que ele/ela, ao menos, falou com alguém que depois nos contou e assim nós fomos capazes de conseguir a ajuda e o cuidado que ele/ela precisa.
Você não pode simplesmente fazê-lo (la) comer?
Assim como muitos problemas comportamentais, é difícil mudar sem muita persistência e informações médicas de como enfrentar este processo. Embora você não possa fazê-los comer, você pode, trabalhando com um profissional que apóia seu esforço, encontrar maneiras efetivas de romper a inanição e o abuso de exercício. De fato, estudos nos Estados Unidos e no Reino Unido afirmam que colocar o paciente no comando da restauração do peso é uma medida efetiva para a maioria dos adolescentes com anorexia nervosa.
O que você está fazendo para ajudar seu filho?
Nós estamos escutando nosso filho, educando-nos sobre isso, e dando o melhor, o mais compreensível possível. Cuidado para tratar de todas as questões de uma doença realmente complexa. É exaustivo.
Como vocês estão lidando com isso?
Obrigado por se interessar. É muito exaustivo e estressante para toda nossa família. Nós realmente apreciamos a compreensão e apoio vindo dos amigos
Ele/ela vai ficar curado depois do tratamento?
Nós estamos esperançosos que o tempo proporcione uma recuperação integral. Pode ser um longo processo. Conseguir o tratamento certo é o segredo e grande parte do meu esforço está focada em conseguir isso.
Há alguma chance de que ele/ela possa morrer?
Os transtornos alimentares são doenças que apresentam risco de vida. Eles afetam a saúde física e mental da pessoa. Algumas pessoas morreram em conseqüência dessa doença. É muito assustador, mais estamos esperançosos e fazendo tudo que podemos para assegurar que ele/ela tenha os cuidados necessários para prevenir e evitar isso.
Por que você não fez algo antes?
A coisa mais assustadora sobre os transtornos alimentares é o quão secreto eles são e como a pessoa consegue esconder sua condição. Se tivéssemos sabido os sinais e sintomas que sabemos agora mais cedo, teríamos suspeitado antes e teríamos procurado ajuda na mesma hora. Mesmo assim, é preciso que a pessoa esteja querendo aceitar essa ajuda e o tratamento depois que a crise inicial tenha passado – e a natureza da doença dificulta isso.
O que eu posso fazer para ajudar?
Muito obrigado por perguntar. A vida tem sido muito centrada neste problema ultimamente e eu só tenho tentado assegurar que meu filho (a) esteja recebendo a ajuda e os cuidados de que precisa. Isso deixa pouco tempo para as tarefas de casa (lavanderia, correio, compras de supermercado, dar banho no cachorro, etc.). Eu tenho uma lista de coisas que devem ser feitas. Se você puder realmente ajudar, veja se pode fazer algumas dessas tarefas e coloque ao lado dela, o dia e a hora em que irá fazê-la.
Por que você não está me deixando ajudá-lo?
A doença de nosso (a) filho (a) é séria e nós estamos nos apoiando e confiando na ajuda da equipe médica para tratá-lo (a). A ajuda que preciso da família e dos amigos é o apoio contínuo e a amizade. Eu aprecio e considero sua pergunta. Se eu pensar em algo que nossa família precise e que você possa fazer por nós, eu falarei com você.
Por que você não me falou sobre isso antes?
É um assunto privado e o nosso foco inicial era educar-nos sobre o assunto e conseguir para nosso (a) filho (a) o melhor tratamento. Nós nem tínhamos certeza se seria de alguma ajuda dividir o problema com outros. Assim, quando achamos que estávamos prontos, decidimos que era a hora certa de compartilharmos com amigos e familiares.
Posso ir com você ao grupo de apoio?
A resposta depende do contexto: Se a pessoa está sendo intrometida e não é íntima da família pode ser inapropriado ir a um grupo de apoio. Nesse caso, aqui está uma boa resposta: O grupo de apoio foi feito para pessoas que estão vivendo a situação. É muito bom o fato de você querer prender mais sobre transtornos alimentares. Seminários informativos sobre a doença ocorrem periodicamente e podem ser um lugar mais confortável para aprender sobre o assunto.
Ele/ela vai ter que ser hospitalizado (a)?
Isso vai depender do progresso que ele/ela fizer no tratamento. Nós teremos que acompanhar o andamento. A hospitalização é, às vezes, necessária devido às graves conseqüências que essa doença pode acarretar.
Por que ele/ela está voltando ao hospital novamente?
A recuperação é um processo difícil e nem sempre previsível. Recaídas fazem parte e acontecimentos estressantes podem, algumas vezes, ocasioná-las. Mas manter uma visão geral positiva é importante e saber que muitas pessoas se recuperam mantém nossa esperança e vontade de continuar lutando.
Quanto tempo vai durar o tratamento?
O tratamento e seu progresso variam de pessoa para pessoa. Ele pode durar meses, como pode durar anos.
Por que você está indo para terapia de família?
Nós esperamos entender melhor o problema, nosso papel no processo de recuperação, como melhor apoiar e encorajar nosso filho/filha e como ajudar a lidar com os sintomas.
Por quanto tempo ele/ela estará em recuperação?
Não se pode colocar uma linha de tempo na recuperação. Cada paciente progride na sua própria velocidade. Devemos ser pacientes com a terapia, com a procura do medicamento certo, e com processo inteiro do plano de tratamento.
O seu filho (a) está tomando algum remédio que eu deva saber? Quais os efeitos colaterais aos quais eu deva estar atento?
A escola e qualquer pessoa com quem seu filho passe um tempo significativo devem receber essas informações. Esteja preparado com cópias de papéis contendo nomes e doses de medicamentos e o contato do médico que as prescreveu.
Por que você não interrompe esse comportamento destrutivo?
Recuperação é um encargo do paciente. A equipe de tratamento e a família está fazendo todo o possível para dar todo cuidado e apoio que ele/ela pode precisar na recuperação. Mas ninguém pode forçar o tratamento ou acelerar a recuperação.
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