Entrevista com um especialista
1. Maconha é droga?
A maconha é mais enganosa das drogas. Sob o disfarce de substância natural, ela atrai jovens desavisados e provoca danos muitas vezes irreversíveis.
Afinal, é preciso considerar que quase todas as drogas são originadas de plantas naturais. O álcool deriva da cana-de-açúcar, o fumo deriva do tabaco, a cocaína deriva da folha de coca e a heroína deriva da flor tulipa. E não é por isso que elas deixam de fazer mal. O que importa, na verdade, é que todas elas contêm substâncias indutoras de dependência naqueles indivíduos predispostos a tal.
2. O que é pior, a maconha ou o cigarro?
Todos os dois são nocivos à saúde. A maconha contém mais ou menos 450 substâncias químicas que também estão contidas no cigarro comum. Estas substâncias provocam as mesmas inflamações respiratórias, o enfisema pulmonar, o câncer e a dependência.
3. Álcool é droga?
Sim, álcool é droga, assim como são drogas todos os medicamentos utilizados para tratamento de diversas doenças. De acordo com a classificação científica, droga é qualquer substância que introduzida no organismo, por qualquer via, seja capaz de produzir alterações no funcionamento de qualquer órgão ou tecido.
A questão é como elas (as drogas) são utilizadas. Abuso, ou uso nocivo de drogas é o seu uso não social ou não medicinal. Ou seja, se alguém usa a bebida alcoólica em situações sociais (festas, fins-desemana) ou os medicamentos (calmantes, antidepressivos ou redutores doapetite) para fins medicinais, isso não se configura como um problema.
4. O que é dependência?
Dependência é o uso de qualquer droga acima dos limites socialmente ou medicamente aceitos. Se alguém continua a usar a droga mesmo quando ela está fazendo mal à sua saúde, isto é dependência e deve ser tratado como uma doença.
5. Quais são as conseqüências da dependência de drogas?
São várias. Além das conseqüências orgânicas, aquelas relativas à saúde, existem as conseqüências sociais. Quem é dependente de drogas não consegue trabalhar ou estudar direito, se relaciona mal com o cônjuge e com os familiares e perde o controle sobre a sua vida em geral.
6. Qual é a diferença entre as drogas legais e as drogas ilegais?
A única diferença é a possibilidade de ser preso por porte e uso de drogas ilegais, ou seja, ter que arcar com as conseqüências de estar
cometendo um crime.
Entretanto, como a droga ilegal é cara e sua distribuição é controlada por traficantes, quase sempre o usuário acaba se envolvendo com o crime e cometendo delitos para manter o seu consumo.
Apesar disso, existe um projeto de lei que tenta considerar um usuário de drogas ilegais como uma vítima das circunstâncias sociais. Segundo este projeto de lei, um usuário das drogas ilegais não deveria ser preso e sim condenado a trabalhos comunitários.
Em alguns países do mundo, o uso de drogas ilegais é tolerado, desde que restrito a determinados locais e controlado pelo governo. Nestes países, o governo tem conhecimento de quem usa tais drogas e oferece tratamento para tais indivíduos de acordo com a sua necessidade. Este tipo de iniciativa nunca mostrou eficiente até hoje.
7. Liberação das drogas funciona?
Ao que parece, não funciona. Alguns países têm adotado esta estratégia alegando que na medida em que o consumo se torna legal e permitido, os usuários não teriam que recorrer a traficantes para comprar as drogas.
Acontece que, apesar disso, tem-se observado um aumento do consumo, um maior índice de dependência e uma maior incidência de marginalidade social.
Na Holanda, onde o consumo de drogas é permitido em um parque público, há uma enorme concentração de mendigos e desocupados por ali.
8. Qual é o tratamento ideal para a dependência de drogas?
Não há tratamento ideal. De acordo com as pesquisas, o tratamento deve estar de acordo com as características do indivíduo, com a gravidade do caso e com os recursos que o próprio possuir. Como diz o jargão, cada caso é um caso.
Apesar disso, grupos de ajuda mútua como Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) têm se configurado como um excelente recurso para recuperação de pessoas dos mais diversos níveis sócio-econômicos.
9. Afinal, existe solução para a dependência de drogas?
Existe.
Por incrível que pareça, recuperar-se de um problema de dependência de drogas é tão simples como parar de fumar, emagrecer mudando de hábitos alimentares, adotar esquemas sistemáticos de estudo, etc. A questão básica para todas estas mudanças de comportamento é a motivação. Sem motivação não se consegue nada. E é importante considerar que motivação significa intenção e persistência. Não basta querer, tem que se esforçar, superar obstáculos e insistir diante de fracassos. O que eu quero dizer é que todo mundo é capaz de superar suas deficiências e dificuldades. Basta querer, querer de verdade.
10. Qual o seu conselho para quem nunca usou drogas?
Se conselho adiantasse, ninguém dava de graça.
Apesar disso, sou pai. E se eu pudesse influenciar o comportamento de meus filhos, faria o possível para que eles se mantivessem o mais distante possível das drogas. Tenho visto muitas pessoas morrerem, muitas famílias se dissolverem, muitas vidas serem jogadas no lixo por causa das drogas.
Não que as drogas tenham culpa, afinal não são as drogas que nos usam, mas nós é que usamos as drogas. Na verdade, todos nós, seres humanos, pais, educadores, políticos e profissionais de saúde, temos uma parcela de responsabilidade por tudo isso. Se cada um fizer o seu papel, em sua casa e em seu ambiente de trabalho, não teremos nossos filhos sofrendo conseqüências de nossas omissões. Temos o dever de orientá-los, custe o que custar. A questão não é “drogas”, é tudo o mais, ou seja: sexo, saúde, educação, responsabilidade civil, cidadania.
Especialista
Dr. Ricardo Esch
Imagem: 702raulinohorn.blogspot.com
Importante:
Um diagnóstico de síndrome de dependência usualmente só deve ser feito se três ou mais dos seguintes requisitos estiveram presentes durante o último ano: um forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância; dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de seu início, término ou níveis de consumo; um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por: a síndrome de abstinência característica para a substância ou o uso a mesma substância (ou de uma substância intimamente relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas (exemplos claros disso são encontrados em indivíduos dependentes de álcool, que podem tomar doses diárias suficientes para matar ou incapacitar usuários não tolerantes); abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessária para obter ou tomar a substância ou para se recuperar de seus efeitos; e persistência do uso da substância, a despeito da evidência clara de consequências manifestamente nocivas. Devem-se fazer esforços para determinar se o usuário estava realmente (ou se poderia esperar que estivesse) consciente da natureza e extensão do dano.
Repense e pense será realmente que você não precisa de ajuda? Se você usa uma droga com uma certa contancia, no seu íntimo você consegue enxergar qual o lugar que essa sensação momentânea de euforia está escondendo ? Quais são suas necessidades reais, será que a droga te trará ela?
Daniela Cracel
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