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Vamos falar sobre a Morte

Vamos falar sobre a Morte

      Tema comum em meus atendimentos, inclusive agora em plena pandemia do COVID19.

     A morte para muitos é um fantasma que aterroriza. Faz com que as pessoas sofram uma grande dor existencial. 

     Acompanhar enlutados, pessoas que estão indo e pessoas que estão perdendo entes queridos é olhar para um linear entre a vida e a morte.  

    Antes de entendermos sobre o processo de morte precisamos compreender o que é vida? Antagônico, não? Mas, o que é a morte além do vazio, da não vida. 

     O que é viver? Viver tem um significado próprio para cada pessoa. Viver para uns significa qual o sentido da vida, e para outros é só existir. 

    Viver pode ter muitos significados, e tudo depende de como aquele indivíduo experimenta a vida dele. 

    Parafraseando, Sartre: " Nós somos nossas escolhas". Ou seja, se as pessoas têm o livre arbítrio de escolher como viver, elas também deveriam ter o direito de escolher como morrer, quando adoecem. Mas, geralmente não é isso que acontece. Seus entes que acabam escolhendo, aonde e como aquele indivíduo deve morrer. 

    De acordo, com a Elisabeth Kubler-Ross, “Quando um paciente está gravemente enfermo, em geral é tratado como alguém sem direito a opinar. Quase sempre é outra pessoa quem decide sobre se, quando e onde um paciente deverá ser hospitalizado. Custaria tão pouco lembrar-se que o doente também tem sentimentos, desejos, opiniões e, acima de tudo, o direito de ser ouvido…”

     Certa vez, acompanhando uma cliente em estado terminal senti tanta dignidade na fala dela em relação a morte, que me gerou uma certa aflição. Estava em estado terminal, e aceitar o fato da sua escolha é parte da nossa função psicoterapêutica. Ela tinha escolhido morrer, parar de lutar. Ficar com isso na época para mim foi difícil. E compreendi que a vida dela tinha um significado muito distinto para ela.  

     Enquanto, estamos vivos, acolher e dar significado a vida é tão importante quanto a morte! 

     Se as pessoas podem escolher em ter uma vida digna, com liberdade e com amor. Elas podem escolher em como acompanhar o ente querido, e ou, como quero lidar com a minha própria despedida do mundo terreno. Escolhendo como, internamente, a pessoa quer lidar com o seu adeus mais sincero com o ente querido, ou com si próprio.

       Cabe ressaltar, que quando proporcionamos a nós mesmo um significado de mais leveza, e mais contato com o nosso presente, a vida pode se tornar mais confortável. E aqui quero recordar que estar presente no agora, como a Gestal-terapia, traz num dos seus maiores conceitos, é estar em contato com a nossa consciência da consciência(awareness). É perceber, sentindo e experimentando, nossa vida, com os cinco sentidos.

       Ramos ensina que a Gestalt trabalha sobre os conflitos, resgatando antigas emoções. “Nós nos liberamos de traumas e ressignificamos experiências para, por fim, aprender a viver de forma mais plena e satisfatória no presente ou, usando a linguagem da Gestalt, nos tornando mais conscientes.

       Gostaria de deixar uma observação, você é livre para escolher o que quer viver, porém não é livre para colher a responsabilidade da sua liberdade, citando Sartre.

       Olhe para si de forma amorosa, e lembre de olhar para o outro também de forma amorosa. Não olhe seu ente, ou você, ou um amigo, com aquele olhar de que ele está “partindo”, mas com um olhar amoroso que apesar de seu sofrimento ele está ali lutando ou dizendo adeus, dignamente, adeus por momentos de vida com dignidade e amor.

    “Você não vai receber outra vida como esta. Você nunca mais vivenciará o mundo exatamente desta maneira, com esses pais, filhos, familiares e amigos. Nem experimentará a terra com todas as suas maravilhas novamente neste período da história. Não espere o momento em que desejará dar uma última olhada no oceano, no céu, nas estrelas ou nas pessoas queridas. Vá olhar agora.” 

Elisabeth Kubler-Ross

Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte. (Freud) 

Autora: Daniela Cracel 

Imagem: Foto de Andres Ayrton no Pexels 

Referências:

1- Ayres JRC. Cuidado e humanização das práticas d e saúde. In: Deslandes SF, organizadora. Humanização dos cuidados em saúde: conceitos, dilemas e práticas. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. p. 49-83.

2- Baile WF, Buckman R, Lenzi R, Glober G, Baele A, Kudelka AP. Spikes. A six-step protocol for delivering bad news: application to the patient with cancer. Oncologist 2000; 5(4):302-311.

 3-Jean-Paul Sartre 

liberdade: responsabilidade, angústia e má-fé (colunastortas.com.br)

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